A recente retomada da febre das ações meme nos Estados Unidos na semana passada colocou os investidores profissionais em um dilema: aproveitar o entusiasmo dos traders de varejo ou encarar o fenômeno como um sinal de alerta para uma possível correção nos mercados inflacionados.
Empresas especulativas que estavam no centro da última onda, como Opendoor Technologies Inc. e Kohl’s Corp., chegaram a perder parte dos ganhos durante a semana, mas ainda negociam em níveis elevados, próximos das máximas dos últimos meses. Paralelamente, os índices amplos, como o S&P 500 e o Nasdaq 100, atingiram novas máximas históricas, superando a queda de abril provocada pelos anúncios das tarifas do presidente Donald Trump.
Um indicativo do otimismo crescente está no recorde da dívida de margem — o valor que os investidores tomam emprestado para comprar ações na Bolsa de Nova York. Esse indicador ultrapassou os picos da bolha das empresas de tecnologia do início dos anos 2000, conforme dados da Autoridade Reguladora da Indústria Financeira, mostrando que muitos investidores estão dispostos a arriscar para obter ganhos maiores.
No entanto, sinais de cansaço começam a surgir. O último rali das ações meme perdeu força após alguns dias, e o Bitcoin, que costuma refletir o humor especulativo, caiu das máximas recentes. Diversas mesas de negociação em Wall Street já recomendam que seus clientes adquiram proteção contra possíveis perdas. O S&P 500, por exemplo, está negociando a quase 23 vezes o lucro futuro, muito acima da média dos últimos dez anos, que gira em torno de 18, o que indica que as ações estão mais caras do que o usual.
Eric Diton, presidente da Wealth Alliance, afirmou: “Estou começando a ficar mais cauteloso. Sou otimista no longo prazo, mas no curto prazo acho que já está na hora de uma correção, dado o nível de especulação excessiva.”
Para entender melhor esse movimento, muitos especialistas comparam a atual situação com a febre das ações meme de janeiro de 2021, quando GameStop e AMC Entertainment capturaram a atenção global. Naquela ocasião, a euforia foi impulsionada por traders de varejo que estavam em casa, usando cheques de estímulo e trocando informações pelas redes sociais. O rali seguiu forte durante 2021, com o S&P 500 subindo 27%, antes de sofrer uma correção de 19% em 2022, seu pior desempenho anual desde a crise financeira de 2008.
Victor Haghani, diretor da Elm Wealth, destaca a imprevisibilidade desses ciclos: “Eles tendem a continuar até pararem, então é difícil saber quando isso vai acontecer. A questão não é se haverá correção, mas quando.”
Na última semana, o volume negociado em ações meme foi impressionante. Por exemplo, 1,8 bilhão de ações da Opendoor foram negociadas em um único dia, quase 10% do volume total do mercado americano, superando em muito o pico da GameStop em 2021, quando foram negociadas 800 milhões de ações.
Ainda assim, o contexto econômico atual é diferente, com juros mais altos e expectativas de que o Federal Reserve comece a reduzir a taxa básica ainda neste ano — um fator que pode impulsionar o mercado. Don Calcagni, da Mercer Advisors, observa: “Se o Fed reduzir os juros, isso será um vento favorável para as ações.”
Apesar das preocupações, muitos especialistas defendem que uma correção breve pode ser saudável e até oferecer oportunidades para compra. Ross Mayfield, estrategista da Baird, afirma: “Qualquer correção de curto prazo pode ser vista como uma boa oportunidade diante do cenário atual.”
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