Rússia quer romper com o dólar: Siluanov confirma avanço de sistema de pagamentos dos Brics

 


Moscou ignora falta de consenso e avança com aliados para criar alternativa às transações internacionais em dólar

Em um movimento que pode remodelar o comércio global nos próximos anos, a Rússia confirmou que seguirá com seus planos para criar um sistema de pagamentos internacional alternativo ao dólar, mesmo sem consenso total entre os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

O anúncio foi feito neste sábado (5) pelo ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, após a reunião dos ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do bloco. Segundo ele, Moscou já trabalha com mecanismos bilaterais e trilaterais com países parceiros interessados.

“Vamos seguir esse caminho com os países que quiserem. O consenso total não é necessário para avançar em algumas decisões financeiras”, disse Siluanov, indicando que a fragmentação no grupo não é um impedimento para a construção de novos modelos de cooperação.

Novo sistema quer fugir da dependência do dólar

A motivação principal por trás da criação desse novo sistema de pagamentos é reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais entre os membros do Brics e suas respectivas zonas de influência.

Com sanções econômicas pesadas impostas ao Kremlin desde a guerra na Ucrânia, a Rússia tem buscado rotas alternativas para transações internacionais, especialmente aquelas que contornem o sistema financeiro tradicional dominado pelos Estados Unidos.

A proposta envolve criar plataformas digitais de pagamento, com infraestrutura própria, interoperável e segura. No entanto, ainda não há consenso entre todos os países do bloco sobre o formato ou as bases técnicas do projeto.

A declaração final do encontro em Moscou foi genérica: menciona apenas que houve “progresso na identificação de caminhos para facilitar pagamentos transfronteiriços rápidos e de baixo custo entre os membros do Brics”.

Rússia propõe novo fundo de garantias do Brics

Outro ponto importante do encontro foi a proposta de criação de um mecanismo de Garantias Multilaterais dos Brics (GMB), vinculada ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) — também conhecido como Banco dos Brics.

A ideia é oferecer instrumentos de resseguro para investimentos em infraestrutura e desenvolvimento sustentável, reduzindo os riscos logísticos, climáticos e operacionais para atrair investidores privados. Segundo Siluanov, a falta de seguradoras não ocidentais confiáveis prejudica projetos estratégicos no Sul Global.

“Propomos uma estrutura internacional de resseguro, com capital próprio dos países interessados, para cobrir riscos de obras, transporte e mudanças climáticas”, afirmou. A proposta recebeu apoio informal de vários participantes, e um projeto-piloto está previsto ainda para 2025.

Contexto geopolítico favorece novo arranjo

A iniciativa russa ocorre em um momento de crescimento do comércio entre os países emergentes e de crescimento das tensões com o Ocidente. A China já lidera iniciativas semelhantes com sua moeda, o yuan, e Índia e Brasil mantêm discussões sobre moedas locais em transações bilaterais.

Embora ainda incipiente, o avanço de modelos financeiros alternativos é visto como parte da desdolarização gradual da economia global — um movimento que pode ganhar tração caso crises e sanções continuem afetando as economias em desenvolvimento.

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