A possibilidade de viver até os 150 anos, algo que por muito tempo parecia restrito a roteiros de ficção científica ou sonhos de alquimistas, começa a ganhar contornos reais dentro de laboratórios de ponta. Para David Sinclair, renomado geneticista da Universidade Harvard e um dos maiores especialistas em longevidade do mundo, “a primeira pessoa que viverá até os 150 anos já nasceu”. A declaração, feita em julho ao podcast Moonshots, reforça o entusiasmo de parte da comunidade científica com o potencial de frear — e até reverter — o envelhecimento.
A principal aposta de Sinclair e de outras lideranças do setor está na chamada reprogramação epigenética, uma técnica que, em linhas gerais, “reinicia” o relógio biológico das células humanas. O método atua nos marcadores epigenéticos — estruturas químicas que controlam quais genes são ativados ou silenciados ao longo da vida. Quando esses marcadores se degradam, ocorre o envelhecimento celular. Se for possível restaurá-los, teoricamente é possível “rejuvenescer” tecidos, órgãos e funções vitais.
Até agora, os experimentos em animais apontam resultados impressionantes. Em testes conduzidos em camundongos e primatas, os cientistas conseguiram regenerar nervos ópticos, recuperar a função de células do coração e até prolongar a vida útil de forma mensurável. Sinclair coordena essas pesquisas dentro do Dog Aging Project, uma iniciativa que envolve também as universidades Texas A&M e Washington. A meta é iniciar os primeiros testes em humanos já em 2026, começando com terapias voltadas a doenças oculares.
Por enquanto, no entanto, quem quiser tentar “rejuvenescer” com essas técnicas precisará de bolsos muito fundos. Cada terapia pode custar entre US$ 300 mil e US$ 2 milhões — valores ainda inacessíveis para a grande maioria da população. A expectativa dos cientistas é que a combinação entre biotecnologia de ponta e inteligência artificial torne esses procedimentos mais baratos e comuns até 2035.
Segundo Sinclair, algoritmos de IA serão decisivos para acelerar a descoberta de medicamentos e compostos capazes de “ativar” genes de longevidade. A Nature Aging, uma das principais revistas científicas do mundo, tem publicado uma série de estudos sobre experimentos em que órgãos de animais são parcialmente rejuvenescidos em laboratório.
Mas será mesmo que viver 150 anos é tão simples?
Nem todos os pesquisadores compartilham do entusiasmo com a ideia de dobrar — ou até triplicar — o tempo médio de vida humana. Para muitos, a promessa de uma “pílula da juventude” pode gerar uma falsa sensação de solução única, ofuscando fatores que já são comprovadamente eficazes na longevidade.
Prova disso são as chamadas zonas azuis, regiões como Okinawa (Japão), Sardenha (Itália) e Icária (Grécia), onde a população ultrapassa com frequência os 90 anos. Nesses lugares, a receita da longevidade passa longe de tecnologias mirabolantes: baseia-se em alimentação natural, vínculos comunitários fortes, prática de atividade física moderada e baixo estresse.
Enquanto isso, a expectativa de vida global gira em torno de 73 anos, mas em países como o Japão já ultrapassa 84 anos. Para muitos estudiosos, isso reforça que estilo de vida saudável, sono de qualidade e boa alimentação ainda são as “tecnologias” mais acessíveis para quem quer viver muito — e bem.
Seja pela medicina de ponta ou pelas velhas práticas saudáveis, o fato é que o sonho de estender a vida humana parece mais real a cada ano. E você, estaria pronto para viver até os 150 anos?
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