As ações da Taurus Armas (TASA4) sofreram forte queda nesta segunda-feira (28), após uma declaração contundente de seu presidente-executivo, Salesio Nuhs. Em entrevista ao programa Tá na Hora, do portal Berlinda, Nuhs afirmou que o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode inviabilizar totalmente a operação da fabricante de armas no Brasil. Segundo o executivo, caso a taxação seja mantida, a empresa estuda transferir toda sua estrutura fabril do país para os EUA.
O impacto das falas foi imediato. O papel ordinário da Taurus fechou o pregão em baixa de 7,87%, cotado a R$ 4,80, ampliando a pressão sobre um setor que já estava atento às negociações entre Brasil e Estados Unidos. A forte desvalorização reflete a preocupação de investidores com o futuro das exportações da companhia, que só em 2024 movimentaram mais de US$ 528 milhões (cerca de R$ 2,9 bilhões). Desse total, nada menos que 61% — ou US$ 324 milhões — tiveram como destino o mercado norte-americano.
A declaração de Nuhs evidencia um dilema que atinge não apenas a Taurus, mas diversos setores da indústria brasileira. A fábrica da empresa em Bainbridge, no estado da Geórgia, nos EUA, ainda responde por apenas 24% do total de armas vendidas no país. O restante depende integralmente da planta brasileira, localizada em São Leopoldo (RS). Mesmo na unidade americana, boa parte das peças essenciais é fabricada no Brasil — o que significa que a tarifa de 50% também afetaria a operação nos EUA, encarecendo a produção e reduzindo a competitividade da marca.
“Se realmente perdurar essa questão da taxação de 50%, várias empresas e vários segmentos no Brasil ficarão inviabilizados. Ela não significa simplesmente diminuir margem. Significa inviabilidade total. Não existe margem que possa cobrir uma taxação de 50%”, afirmou o executivo, sem meias palavras.
Para além dos números de exportação, o potencial impacto socioeconômico é grande. A Taurus emprega diretamente cerca de 3 mil pessoas em sua fábrica em São Leopoldo. Porém, segundo o CEO, a cadeia produtiva ligada à empresa sustenta até 15 mil empregos diretos e indiretos na região. Uma eventual transferência da operação para solo americano poderia significar o fechamento de vagas, agravando o desemprego no Rio Grande do Sul — estado que já enfrenta desafios econômicos, incluindo os impactos das enchentes do primeiro semestre.
A crítica de Nuhs também foi direcionada à condução das negociações do governo federal. O CEO responsabilizou a “inabilidade” do Planalto em articular um acordo com a administração Trump, afirmando que o Brasil deveria ter adotado uma postura mais firme para proteger setores estratégicos das tarifas.
O temor com o tarifaço não se limita à Taurus. Nos últimos dias, parlamentares brasileiros se reuniram com representantes do Congresso norte-americano em uma tentativa de reverter a medida, mas até agora sem avanços concretos. Enquanto isso, Donald Trump segue firme em sua estratégia de endurecer as regras comerciais, apostando em tarifas elevadas para renegociar condições que considere “desfavoráveis” aos EUA.
Com o prazo se esgotando — a taxação entra em vigor já no dia 1º de agosto — investidores monitoram cada fala oficial, à espera de uma sinalização que alivie a pressão sobre setores exportadores. No caso da Taurus, o tic-tac segue alto: a arma pode mudar de país — e levar milhares de empregos junto com ela.
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