Na renda fixa, é comum ouvir que títulos de longo prazo carregam mais risco por prenderem o investidor a uma taxa prefixada ou indexada à inflação por muitos anos. Para compensar, normalmente pagam juros maiores do que os papéis mais curtos. No entanto, o movimento recente do Tesouro IPCA+ tem chamado atenção dos analistas: os vencimentos curtos estão pagando mais do que os longos, invertendo uma lógica que muitos investidores tomam como regra.
No início de fevereiro, o Tesouro IPCA+ 2029 oferecia 7,47% de juro real ao ano, enquanto o IPCA+ 2050 pagava 7,43% — uma diferença mínima de 4 pontos-base (pb). Já no fechamento do dia 23 de julho, essa diferença subiu para 83 pb, mostrando que o mercado está exigindo prêmios maiores para prazos curtos, o que muitos chamam de “curva invertida”.
Por que os juros do Tesouro IPCA+ curto estão mais altos?
Especialistas explicam que essa diferença reflete percepções de risco no curto prazo. De acordo com Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research, o mercado não espera que a inflação atinja a meta tão cedo, forçando o Banco Central a manter os juros elevados por mais tempo. Assim, os investidores cobram mais retorno para prazos próximos.
Outro ponto é o cenário político. As eleições de 2026 já influenciam gestores, que preferem vender posições curtas e realocar para vértices longos, buscando mais proteção contra oscilações políticas e fiscais.
Já no longo prazo, grandes investidores — como fundos de pensão — aproveitam os juros reais historicamente elevados para travar retornos por décadas. Essa demanda pressiona para baixo as taxas dos vencimentos longos.
Vale a pena correr para o título curto?
Para Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, esse cenário mostra que é preciso avaliar muito mais do que apenas a taxa. O investidor que opta pelo curto pode ficar exposto ao risco de reinvestimento: ao vencer o título, pode ser obrigado a aplicar o dinheiro novamente em um ambiente menos favorável.
Além disso, Jeff Patzlaff, planejador financeiro, lembra que papéis longos permitem travamento de juros reais altos por mais tempo, o que garante previsibilidade. Já Ricardo Schweitzer, da Garoa Wealth, alerta: “Comparar só a taxa pode levar a decisões míopes.”
Outro ponto relevante é a marcação a mercado. Títulos longos oscilam mais com as variações de juros — para quem pensa em vender antes do vencimento, isso pode ser oportunidade de lucro ou risco de perda.
Como escolher entre curto e longo?
Na prática, escolher entre Tesouro IPCA+ curto ou longo depende de perfil, objetivos e horizonte de investimento. Quem precisa de liquidez, prefere prazos mais curtos — mas deve planejar bem o reinvestimento. Já quem pode manter o papel até o vencimento, pode aproveitar os juros altos do longo prazo, com menos preocupação com oscilações de curto prazo.
No fim das contas, como resume Harrison Gonçalves, CFA, não existe “o melhor título” de forma genérica: o segredo é alinhar o investimento ao seu planejamento financeiro.
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