Trump aperta, Embraer sangra e WEG faz as malas? Entenda o impacto da tarifa de 50%

 


O Brasil se aproxima de uma nova turbulência no comércio internacional. Caso não haja uma reviravolta de última hora, entram em vigor nesta sexta-feira (1º) as tarifas de 50% impostas pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Na linha de frente entre as mais afetadas estão gigantes como a Embraer e a WEG, que já avaliam alternativas para conter perdas expressivas.

Segundo analistas do BTG Pactual, ainda não há sinais claros de avanço nas negociações entre Brasília e Washington, o que aumenta o risco de as empresas precisarem absorver parte dos custos extras ou transferi-los para clientes — algo que nem sempre é viável em um cenário de concorrência global acirrada.

No caso da Embraer, por exemplo, o impacto é considerado menos óbvio, mas potencialmente alto. Para a área de aviação executiva, o pagamento direto das tarifas se daria por meio da Embraer US, filial responsável pelas importações. Já na aviação comercial, a cobrança recairia sobre os clientes, o que pode tornar as aeronaves brasileiras menos competitivas frente a modelos rivais produzidos nos próprios Estados Unidos ou em países beneficiados por acordos bilaterais.

A estimativa é que o custo adicional chegue a mais de 400 milhões de dólares por ano, caso o tarifaço realmente saia do papel. Isso significa que a meta de resultados da Embraer para 2025 pode ficar defasada. Além disso, o mercado teme que o cenário reduza o apetite de novos pedidos, principalmente na aviação executiva, onde a disputa por fatias de mercado envolve nomes fortes como Gulfstream, Textron (dona da Cessna) e a canadense Bombardier, que podem sair na frente por estarem fora do alcance da nova tarifa.

A WEG, referência global na produção de motores elétricos, também monitora de perto o risco tarifário. Atualmente, a companhia envia ao mercado norte-americano boa parte de sua produção de motores de baixa tensão a partir de fábricas instaladas no Brasil. Só nesse segmento, a empresa fatura cerca de 2 bilhões de reais por ano. Um aumento de tarifa de 10% para 50% pode gerar custo extra superior a 800 milhões de reais anuais.

Para mitigar o baque, a empresa já sinalizou alternativas. Uma delas é ampliar a transferência de parte da produção para o México, que faz parte do acordo de livre comércio USMCA (antigo NAFTA) com os EUA e Canadá. Outra possibilidade é acelerar a expansão da Marathon, fabricante norte-americana de motores adquirida pela WEG em 2023. No entanto, esse processo leva tempo, já que as linhas de produção ainda precisam ser integradas de forma eficiente.

Apesar da escalada de incertezas, a WEG afirmou em sua última teleconferência que, por ora, os planos de investimento permanecem inalterados. Contudo, analistas destacam que uma tarifa tão agressiva pode forçar ajustes de estratégia em médio prazo.

Enquanto isso, o governo brasileiro ainda tenta abrir um canal direto de diálogo com Washington para evitar que as taxas entrem em vigor. Porém, com prazos cada vez mais apertados e sem acordos formais anunciados, as companhias se preparam para um cenário que pode mexer não apenas com seus resultados, mas também com a balança comercial do Brasil como um todo.

Se confirmado, o tarifaço de Trump reforçará a urgência das empresas brasileiras em diversificar rotas de exportação, descentralizar a produção e buscar alternativas para não perder espaço no maior mercado do mundo.


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