Vai dar tempo? Fed mantém juros altos e preocupa investidores

 


A expectativa de que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, volte a reduzir os juros em setembro perdeu força nesta quinta-feira (31), mesmo com a divulgação de dados de inflação e emprego mais fortes do que o previsto. Segundo a ferramenta FedWatch do CME Group, que monitora as apostas do mercado, a probabilidade de manutenção das taxas de juros na faixa atual — entre 4,25% e 4,5% ao ano — subiu para 61%, ante 52% no dia anterior.

Com isso, o cenário de corte de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual) em setembro ficou mais distante, recuando para 39% de chance. Analistas avaliam que o discurso considerado hawkish (duro) do presidente do Fed, Jerome Powell, está no centro dessa mudança de percepção. A sinalização é de que o banco central americano prefere esperar por mais sinais consistentes de desaceleração da economia antes de iniciar uma flexibilização mais agressiva da política monetária.

As novas projeções refletem o impacto de indicadores que ainda mostram resiliência do mercado de trabalho e persistência de pressões inflacionárias. Para muitos economistas, esses fatores reduzem o espaço para cortes de juros mais profundos no curto prazo. Na prática, o mercado já aponta que a chance de redução de apenas 0,25 ponto percentual até o fim do ano subiu para 41,4%, enquanto as apostas de um corte maior, de até 50 pontos-base, caíram de 38,1% para 34,7%.

Já o cenário de manutenção total dos juros até dezembro ganhou força, passando de 11,4% para 14,8% nesta quinta. O temor de que a inflação volte a ganhar fôlego faz com que os formuladores de política monetária sigam cautelosos, mesmo com pressões políticas. O ex-presidente Donald Trump, por exemplo, voltou a atacar o presidente do Fed. Em declarações recentes, chamou Jerome Powell de “muito estúpido e político” e “um perdedor total”, acusando-o de prejudicar a economia americana.

Para o BMO Capital Markets, a mensagem passada por Powell na última reunião indica que a autoridade monetária pode deixar o próximo corte para outubro, caso novos dados confirmem alívio consistente na inflação sem comprometer o crescimento. Vale lembrar que a taxa básica de juros nos EUA está no maior patamar em mais de 20 anos, após uma sequência de altas que começou em 2022 para conter a maior inflação em quatro décadas.

Os juros altos impactam diretamente o custo de crédito e os investimentos em todo o mundo, influenciando decisões de bancos centrais de outros países, inclusive o Brasil. Por aqui, o mercado segue atento também ao próximo anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) — previsto para agosto — que deve definir os rumos da taxa Selic, atualmente em 15% ao ano.

Enquanto isso, investidores monitoram de perto cada novo dado econômico nos EUA. Qualquer surpresa pode mexer novamente nas apostas de cortes ou manutenção dos juros, alimentando volatilidade nos mercados globais. A expectativa é de mais ajustes até a reunião de setembro, mas cada indicador divulgado até lá poderá mudar o jogo mais uma vez.

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