Com a taxa Selic mantida em 15% ao ano, o Brasil segue oferecendo retornos extremamente atrativos na renda fixa. Títulos atrelados ao CDI, por exemplo, chegam a entregar até 111% do índice, seduzindo até investidores mais arrojados a concentrar o portfólio dentro do país. Mas será que apostar todas as fichas no mercado local é mesmo uma boa ideia? Para os especialistas em investimentos, essa decisão pode ser um erro estratégico que compromete o crescimento do patrimônio no longo prazo.
Segundo Rodrigo Sgavioli, head de Alocação da XP, o Brasil ainda carrega vulnerabilidades que não podem ser ignoradas. A instabilidade política, o risco fiscal elevado e a exposição do mercado local a poucos setores — como bancos e commodities — são fatores que limitam o potencial de diversificação. “Mesmo com juros em dois dígitos, o investidor brasileiro deve olhar para fora”, afirma Sgavioli. Ele ressalta que o mercado de capitais do Brasil representa apenas 1% a 2% do volume mundial, enquanto gigantes globais, como o setor de tecnologia e inteligência artificial, seguem crescendo em ritmo acelerado.
O economista Caio Athié Teruel, sócio da Cimo Family Office, complementa: “Quem ignora a diversificação internacional deixa de acessar oportunidades que podem elevar a rentabilidade total da carteira”. Para ele, fundos de investimento, títulos corporativos e emissões custodiadas fora do país devem estar no radar de qualquer investidor, mesmo os conservadores.
Outro ponto fundamental é a proteção cambial. O real tem histórico de desvalorização frente ao dólar — em média, perde cerca de 8,8% ao ano, segundo dados de longo prazo. Para Tomás Roque, analista da Avenue, ter ativos dolarizados preserva o poder de compra do patrimônio, principalmente em momentos de turbulência local. Hoje, apenas 2,5% do patrimônio dos brasileiros está investido fora do país, um índice muito baixo quando comparado a economias avançadas.
Mas em quais ativos investir? Na renda fixa global, os Treasuries americanos (títulos do Tesouro dos EUA) pagam cerca de 4,34% ao ano, o maior patamar em 15 anos. Somado à valorização cambial, o retorno total pode bater 13% ao ano, já em dólar. Na renda variável, a XP mantém uma alocação “neutra”, com 60% em ações dos EUA, 15% na Europa e 10% em mercados emergentes, priorizando setores que surfam a onda da IA e tecnologia.
Para quem está começando, o formato 60/40 (60% em renda fixa, 40% em ações) continua sendo referência, segundo Sgavioli. Já Teruel recomenda incluir hedge funds que podem trazer retornos descorrelacionados e mais proteção ao portfólio.
E quanto alocar fora? Um estudo da FGV mostra que investir 16% a 18% do patrimônio no exterior ajuda a neutralizar o impacto cambial no consumo de longo prazo. Além disso, Roque destaca que é preciso ficar atento a riscos como liquidez e crédito, principalmente em mercados pouco familiares ao investidor brasileiro.
Em resumo: mesmo com CDI alto, quem diversifica globalmente reduz riscos e pode conquistar retornos mais consistentes. Afinal, quando o Brasil espirra, quem tem ativos lá fora dorme mais tranquilo.
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