A Dinamarca vem chamando a atenção da Europa por registrar um crescimento econômico robusto em meio à desaceleração de seus vizinhos. Grande parte desse desempenho se deve ao sucesso da Novo Nordisk, gigante farmacêutica responsável por produtos como o Ozempic e o Wegovy, que transformaram o mercado global de medicamentos para diabetes e perda de peso. Mas sinais recentes de turbulência na companhia acendem o alerta: será que o país estaria exposto demais a uma única empresa?
Na última semana, a Novo Nordisk revisou para baixo sua previsão de lucro pela segunda vez no ano, mencionando o aumento da concorrência nos Estados Unidos. A reação do mercado foi imediata: as ações da empresa despencaram 23% em um único dia, a maior queda já registrada. No acumulado da semana, o valor de mercado da companhia encolheu quase 100 bilhões de dólares, um baque não apenas para acionistas, mas para a economia dinamarquesa como um todo.
O impacto foi sentido diretamente pelos cidadãos. Segundo cálculos do Sydbank, investidores dinamarqueses perderam o equivalente a 5,8 bilhões de dólares em carteiras de ações, o que representa cerca de 3% do consumo privado anual. Para muitos economistas, essa retração pode afetar decisões de gastos familiares, como a compra de um carro ou viagens.
Mais preocupante ainda é a dependência estrutural da Dinamarca em relação à farmacêutica. Nos últimos anos, a produção e as exportações da Novo impulsionaram fortemente o Produto Interno Bruto (PIB) do país. Em 2023, a Dinamarca cresceu 3,5% — uma marca invejável para padrões europeus — em grande parte devido ao desempenho recorde da empresa. Já no primeiro trimestre de 2025, uma queda nas vendas fez a economia recuar levemente, e novos dados estão sendo aguardados com expectativa.
O temor de alguns analistas é que o caso da Novo Nordisk possa se tornar um “déjà vu” do que ocorreu na Finlândia no início dos anos 2000, quando a Nokia dominava a economia do país. O colapso da fabricante de celulares teve repercussões profundas, mergulhando a Finlândia em anos de estagnação.
Apesar das semelhanças, economistas como Las Olsen, do Danske Bank, lembram que o cenário não é idêntico. Enquanto a Nokia enfrentou uma queda abrupta de mercado, a Novo Nordisk ainda cresce, embora enfrente mais pressão competitiva. Além disso, a economia dinamarquesa é mais diversificada e possui políticas de trabalho flexíveis, o que pode ajudar a mitigar os impactos.
Ainda assim, o sinal de alerta está dado. A empresa emprega diretamente mais de 30 mil pessoas na Dinamarca e foi responsável por metade do crescimento de empregos privados, fora o setor agrícola, no último ano. Uma onda de demissões, como o novo CEO sugeriu, pode ter efeitos em cascata em cidades como Kalundborg, que prosperaram com os investimentos da farmacêutica.
Por ora, o governo dinamarquês e investidores acompanham de perto a situação, cientes de que o sucesso de um país não deve depender demais de um único motor de crescimento — por mais rentável que ele seja.
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