A relação entre Brasil e China está em profunda transformação, com a chegada e o crescimento expressivo de gigantes chineses de tecnologia e consumo no mercado brasileiro, ultrapassando a tradicional troca de commodities. Essa nova dinâmica foi destaque na 4ª Conferência Institucional da XP, evento paralelo à Expert XP 2025, onde especialistas e investidores debateram os desafios e oportunidades dessa aproximação estratégica.
Ron Cao, fundador da Sky9 Capital, ressaltou que, há poucos anos, empresas como Huawei e BYD tinham presença limitada no Brasil, focando em setores mais tradicionais, como energia e comércio. Atualmente, essas companhias enxergam o Brasil como um parceiro essencial para projetos conjuntos em engenharia, distribuição e geração de receitas, em um cenário impulsionado pela globalização digital e pelas tensões comerciais entre China e Estados Unidos.
O crescimento chinês no Brasil é ilustrado por exemplos como a aquisição do primeiro unicórnio brasileiro pela Didi, “o Uber da China”, mostrando o peso do capital e da inovação chinesa na economia local.
Ning Kang, diretor executivo da IDG Capital, trouxe à tona a história de sucesso da Lucky Coffee, rede chinesa que desafia gigantes como a Starbucks na China e já planeja expansão no Brasil. Com lojas menores, foco em agilidade via apps e um portfólio extenso de produtos inovadores, a empresa importa grande parte do café do Brasil, que é visto como um mercado consumidor estratégico e promissor para produtos de qualidade.
Aileen Chang, fundadora da Tashi Capital Management, destacou o salto tecnológico da China, que se tornou uma “sociedade mobile-first” em poucos anos, com adoção massiva de smartphones e um ecossistema digital altamente competitivo. A forte formação de engenheiros, que representa quase 40% dos universitários no país, sustenta essa vantagem, impulsionando setores como drones, baterias e veículos elétricos.
Contudo, o grande desafio para as empresas chinesas agora é conseguir operar com rentabilidade em mercados externos, criando empregos e presença local — um processo que levou décadas para outras potências asiáticas e europeias.
Nesse contexto, o Brasil aparece como um terreno fértil, com um consumidor robusto, cultura digital crescente e laços comerciais consolidados. O país pode se tornar uma peça-chave para a expansão chinesa, unindo parcerias e seguindo fluxos financeiros globais, conforme sintetizou Ron Cao: “O jogo agora é encontrar parceiros certos, construir juntos e seguir o dinheiro. E cada vez mais, esse caminho passa pelo Brasil”.
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