As novas tarifas de Trump vão abalar a economia brasileira?

 


Mesmo com a imposição de tarifas de 50% sobre parte das exportações brasileiras aos Estados Unidos, o impacto direto sobre a economia do Brasil tende a ser limitado, segundo especialistas. A medida, que entra em vigor nesta quarta-feira (6), foi anunciada por Donald Trump como forma de retaliação política ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, isenções amplas e o crescente comércio com a China devem suavizar seus efeitos econômicos.

Ao contrário de países como México e Canadá — cujas economias são fortemente dependentes das exportações para os EUA —, o Brasil envia apenas 12% de seus produtos ao mercado norte-americano. Em comparação, a China já representa 28% das exportações brasileiras, e essa participação tem aumentado consistentemente na última década.

Outro fator que minimiza os danos é a estrutura da economia brasileira. Grande parte das exportações afetadas pelas novas tarifas são commodities como carne, café e frutas, que tendem a encontrar mercados alternativos com relativa facilidade. Além disso, setores mais estratégicos, como energia, aeronaves e suco de laranja, foram excluídos da taxação graças a uma série de isenções previstas na ordem executiva de Trump.

Com essas exceções, o governo estima que apenas cerca de 36% do valor exportado aos EUA será efetivamente impactado. A XP Investimentos, por exemplo, reduziu de 0,30 para 0,15 ponto percentual sua estimativa de impacto negativo sobre o PIB brasileiro em 2025. O Goldman Sachs, por sua vez, manteve sua projeção de crescimento em 2,3%, considerando que o auxílio do governo brasileiro aos setores mais vulneráveis deverá atenuar os efeitos das tarifas.

Além disso, o comércio internacional do Brasil é menos exposto que o de outras economias emergentes. Exportações e importações representaram apenas 36% do PIB em 2024 — um nível modesto comparado ao de países altamente integrados ao comércio global, como Tailândia ou Malásia.

Ainda assim, os efeitos podem ser sentidos de forma desigual pelo país. Regiões como o Nordeste, cuja base exportadora é mais concentrada em produtos de baixo valor agregado e intensivos em mão de obra, como calçados, têxteis e frutas frescas, devem sofrer mais com a tarifa integral de 50%.

Do ponto de vista político, o cenário se torna mais complexo. O presidente Lula, que já trocou farpas públicas com Trump, adotou uma postura firme ao defender a soberania do Brasil e a independência do Judiciário, recusando críticas norte-americanas sobre o julgamento de Bolsonaro no STF. Embora tenha dito estar aberto a negociar, a prisão domiciliar do ex-presidente tornou qualquer avanço nas conversas mais difícil.

Por ora, a estratégia do governo é manter o discurso firme, apoiar os setores afetados e apostar na diversificação comercial. Caso o impacto inflacionário seja pequeno, o Banco Central poderá, inclusive, considerar um início antecipado do ciclo de queda dos juros — cenário que ganha força diante da perspectiva de menor inflação e maior oferta interna de alimentos, gerada pelo redirecionamento das exportações.

Embora o tom da medida de Trump seja claramente político, seu alcance econômico imediato parece limitado — ao menos no curto prazo. O desafio maior será garantir que os efeitos não se agravem caso as tensões diplomáticas se intensifiquem ou as exceções sejam revistas nos próximos meses.

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