Ativos brasileiros vão piorar no 2º semestre? Ibiuna prevê PIB estagnado, inflação em alta e mais risco político

 


A gestora Ibiuna Investimentos projeta um segundo semestre mais desafiador para os ativos brasileiros, apontando uma combinação de crescimento fraco, inflação resiliente e ambiente político instável como fatores de risco. Em sua carta mensal, a casa estima que a economia brasileira passará por dois trimestres consecutivos de expansão próxima a zero, mesmo com o PIB de 2025 encerrando com avanço de cerca de 2%.

Um dos principais alertas da Ibiuna está no comportamento dos preços: a gestora projeta que a inflação voltará a acelerar no último trimestre, fechando o ano em 4,9%. Se confirmado, esse será o sexto ano consecutivo com o IPCA acima do teto da meta, o que reforça a percepção de fragilidade do arcabouço fiscal e monetário do país.

Esse diagnóstico é mais pessimista do que o de outras casas, como a Legacy Capital, que vê uma trajetória de preços mais benigna e ainda aposta em corte da Selic neste ano. A Ibiuna, por outro lado, acredita que os juros continuarão elevados por um longo período. A taxa básica, hoje em 15%, tende a permanecer nesse patamar até meados de 2026, segundo a ata do Copom divulgada nesta terça-feira (5).

Além das incertezas monetárias, a gestora projeta deterioração nas contas externas. O déficit em conta corrente pode chegar a 3% do PIB até dezembro, enquanto o déficit nominal deve atingir 9%, elevando a dívida pública para algo em torno de 80% do PIB. Esse cenário fragiliza ainda mais a percepção de solvência do país e pode demandar prêmios de risco mais altos por parte dos investidores.

O ambiente político também é um fator de preocupação crescente. A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro e os desdobramentos de seu julgamento devem aumentar a volatilidade, somando-se às tensões comerciais com os Estados Unidos — agravadas pelas tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — e à fragmentação da corrida presidencial de 2026, que já começa a ser precificada pelo mercado.

Apesar do pessimismo no cenário doméstico, a Ibiuna enxerga uma possível melhora vindo do exterior. A expectativa é de que o Federal Reserve inicie uma série de cortes de juros a partir de setembro, reduzindo gradualmente a taxa até o início de 2026. Essa mudança pode favorecer mercados emergentes e aliviar a pressão sobre o câmbio, suavizando o impacto sobre o real e abrindo espaço para alguma recuperação nos ativos brasileiros.

Diante desse quadro, a gestora mantém uma postura conservadora. Seu portfólio segue concentrado em ativos internacionais, com posições vendidas em dólar e operações táticas nos mercados de juros nominais e reais, tanto no Brasil quanto no exterior.

Para os investidores locais, o recado da Ibiuna é claro: cautela deve ser a palavra-chave na segunda metade de 2025.

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