China vai seguir a União Europeia e endurecer exigências ambientais para carne brasileira?

 


A relação comercial entre Brasil e China, principal destino da carne bovina brasileira, pode enfrentar novos desafios diante da possível adoção, pela China, de exigências ambientais rigorosas semelhantes às estabelecidas pela União Europeia na sua recente lei antidesmatamento. A questão foi levantada por Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade da Marfrig, durante a São Paulo Climate Week, em 8 de agosto. Segundo ele, a China avalia implementar controles ambientais mais severos sobre os produtos importados, especialmente no que diz respeito à origem e à sustentabilidade da cadeia produtiva.

A União Europeia já avançou significativamente no controle do impacto ambiental das importações, especialmente aquelas ligadas a produtos como carne, couro, soja e café. A lei antidesmatamento europeia, em vigor desde 2020, exige que esses produtos tenham origem comprovadamente livre de desmatamento após a data de corte estabelecida. Essa norma tem gerado um movimento global de adaptação por parte dos exportadores brasileiros, que precisam demonstrar a rastreabilidade e a sustentabilidade ambiental de suas cadeias produtivas para manter o acesso a mercados importantes.

Paulo Pianez destacou que o rigor ambiental não deve ser uma exclusividade europeia. Segundo ele, a pressão por normas mais severas “é inevitável” e pode se espalhar para outros grandes mercados, como a China. A Marfrig, uma das maiores empresas brasileiras de proteína animal, recentemente recebeu uma delegação do governo chinês para tratar justamente dessas questões. Essa movimentação indica que a China pode estar se alinhando a tendências globais de sustentabilidade para garantir a compatibilidade dos produtos importados com padrões ambientais internacionais.

A possível adoção de regras ambientais pela China tem implicações diretas para o agronegócio brasileiro, que depende fortemente do mercado chinês para a exportação de carne bovina. Atualmente, a China é o principal destino da carne produzida no Brasil, movimentando bilhões de dólares e contribuindo de forma significativa para a balança comercial do país. Contudo, a exigência de comprovações ambientais mais rigorosas pode representar um novo obstáculo que exige ajustes na produção, rastreamento e certificação, para atender a esses critérios e evitar restrições comerciais.

Além do impacto econômico direto, a adoção de medidas similares às da União Europeia pode impulsionar mudanças mais profundas no setor agropecuário brasileiro, estimulando práticas de produção mais sustentáveis e transparentes. O viés de adaptação mencionado por Pianez indica que o mercado brasileiro precisará responder às novas demandas globais com soluções tecnológicas, maior monitoramento ambiental e investimento em processos que assegurem a sustentabilidade e a legalidade ambiental das atividades.

Especialistas ressaltam que, enquanto há desafios, essa movimentação também pode gerar oportunidades para o Brasil se destacar como fornecedor responsável e alinhado às exigências internacionais. A demanda global por produtos sustentáveis cresce, e a capacidade de comprovar a origem ambientalmente correta pode abrir portas para mercados mais exigentes e consumidores conscientes. Dessa forma, a adaptação às novas regras não é apenas uma necessidade para evitar barreiras, mas também um caminho para a valorização da carne brasileira no mercado internacional.

A tendência de maior rigor ambiental global reforça a importância de políticas públicas e iniciativas privadas que incentivem a sustentabilidade no campo, ao mesmo tempo em que garantam competitividade ao agronegócio brasileiro. Programas de rastreabilidade, monitoramento via satélite, certificações e parcerias internacionais são algumas das ferramentas que podem ajudar a indústria a se adequar às novas exigências.

Em resumo, a movimentação da China em direção a uma política ambiental mais rigorosa nas importações de carne representa um desafio real e uma oportunidade estratégica para o Brasil. A sustentabilidade deixa de ser um diferencial e passa a ser uma condição básica para manter a competitividade e fortalecer a posição do país como um dos maiores exportadores mundiais de proteína animal. Estar preparado para essas mudanças será essencial para garantir o futuro do setor no cenário global.

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