Como o Brasil bateu recorde de exportação de minério de ferro e ainda assim lucrou menos?

 


Em julho, o Brasil registrou um feito histórico: bateu o recorde mensal de exportação de minério de ferro, com impressionantes 41,1 milhões de toneladas embarcadas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Esse resultado confirma a posição do país como o segundo maior exportador global da commodity, atrás apenas da Austrália, e reforça o papel de destaque da mineradora Vale, principal responsável pelos embarques nacionais.

Apesar desse recorde em volume, um dado chama atenção: a receita com essas exportações caiu 8,8% em relação ao mesmo mês de 2024, totalizando US$ 2,62 bilhões. O motivo? Uma queda de aproximadamente 13% nos preços internacionais do minério de ferro. Ou seja, o Brasil vendeu mais, mas recebeu menos por tonelada exportada.

Esse contraste entre volume e valor revela as dinâmicas complexas do comércio internacional de commodities, em que o desempenho financeiro nem sempre acompanha o crescimento físico das exportações. Mesmo com a maior quantidade embarcada em quase uma década — superando o recorde anterior de 39,5 milhões de toneladas registrado em dezembro de 2015 —, os preços desfavoráveis impactaram negativamente a balança comercial brasileira nesse item específico.

Ainda assim, o resultado ajudou o país a fechar julho com um superávit comercial de US$ 7,075 bilhões, superando as expectativas do mercado, que giravam em torno de US$ 5,6 bilhões. Ou seja, mesmo ganhando menos com o minério de ferro, o saldo final da balança comercial foi positivo graças à diversidade das exportações brasileiras.

O principal destino do minério de ferro brasileiro continua sendo a China, maior consumidora global da commodity. A demanda chinesa, embora sujeita a flutuações causadas por políticas econômicas internas e crises no setor imobiliário, permanece forte o suficiente para sustentar níveis elevados de compra.

A queda nos preços do minério de ferro, por sua vez, está relacionada a uma combinação de fatores, como estoques elevados nos portos chineses, menor ritmo de construção civil na China e oscilações na economia global. Com isso, mesmo com o apetite chinês por minério ainda significativo, os compradores conseguiram negociar valores mais baixos, pressionando as receitas dos exportadores.

Este cenário levanta questões estratégicas para o setor mineral brasileiro. A depender da continuidade da tendência de queda nos preços, pode haver impactos nos lucros de empresas como a Vale e nas receitas públicas oriundas de royalties de mineração. Por outro lado, o crescimento no volume embarcado indica uma boa capacidade logística e operacional da cadeia produtiva, além de um posicionamento sólido no mercado global.

Em resumo, o Brasil comemora o recorde histórico em quantidade exportada de minério de ferro, mas a queda nos preços internacionais mostra que volume não é tudo. A economia global, especialmente os rumos da China, continuará sendo um fator-chave para determinar o real impacto financeiro desse desempenho impressionante.

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