No final de julho de 2025, o governo dos Estados Unidos anunciou uma tarifa de até 50% sobre a maioria das exportações brasileiras, uma medida batizada pela imprensa e nas redes sociais como “Liberation Day Tariff”. Em paralelo, o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve quase intacto o aumento do IOF sobre operações de crédito, câmbio e previdência, ampliando a pressão econômica sobre o país. Essas decisões provocaram uma verdadeira tempestade de debates nas redes sociais brasileiras entre os dias 30 de julho e 1º de agosto.
Em apenas três dias, foram contabilizadas cerca de 2,3 milhões de publicações no X (antigo Twitter) e 1,5 milhão em outras plataformas como Facebook, TikTok, YouTube e Instagram. O assunto que mais mobilizou o público foi a tarifa de 50%, com 3,57 milhões de menções, enquanto o IOF gerou cerca de 230 mil menções, e o restante das discussões abordou os dois temas como faces de um mesmo problema. A soma dessas interações resultou em aproximadamente 600 milhões de visualizações e um alcance de 70 milhões de usuários únicos, segundo análise de sentimento e engajamento.
O sentimento da população nas redes ficou fortemente polarizado. Cerca de 69% dos internautas criticaram a tarifa americana, questionando o impacto econômico e o viés político da medida, vista como retaliação à “perseguição” ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Por outro lado, 22% apoiaram a tarifa como forma de punição ao governo Lula e ao ministro Alexandre de Moraes. O IOF, por sua vez, concentrou 75% de rejeição entre perfis ligados à direita política e influenciadores de finanças pessoais, enquanto 15% defenderam o imposto como uma medida necessária de ajuste fiscal após a confirmação do STF.
Nas hashtags mais populares, as disputas ideológicas ficaram evidentes: #RespeitaOBrasil, impulsionada pelo presidente Lula e ministros, apontava para uma resposta no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em contrapartida, #ChegaDeDitadura, disseminada por deputados da oposição, associava as medidas a um “estado taxador e ditatorial”. A hashtag #MaisImpostoNao viralizou entre influenciadores de turismo e finanças, refletindo o impacto direto na economia do cidadão comum, afetado no preço do dólar, passagens e eletrônicos. Já #TACO (“Trump Always Chickens Out”) ironizava os recuos habituais do ex-presidente americano, especialmente após ele anunciar exceções em setores como aviação e suco de laranja.
A disputa política também dominou os cliques e visualizações. O perfil oficial de Lula acumulou mais de 8 milhões de visualizações em posts defendendo a “retaliação responsável”, enquanto perfis oposicionistas somaram 5 milhões de visualizações, com cerca de 18% das interações originadas de contas automatizadas ou bots. O aumento no preço da carne e da cerveja virou meme, com o tema envolvendo mais compartilhamentos do que debates políticos puros — mostrando que a “dor no bolso” fala mais alto que a ideologia.
Do ponto de vista econômico, o impacto é significativo. Consultorias projetam perdas anuais próximas a US$ 6 bilhões em exportações de setores como café, frutas e manufaturados caso a tarifa se mantenha. A Embraer, embora tenha recebido uma tarifa menor (10%) sobre aviões, já enfrenta atrasos em pedidos. No setor de mineração, a isenção fortalece a posição do Brasil em possíveis disputas comerciais. No aspecto fiscal, o governo estima que o aumento do IOF evitará uma perda de R$ 12 bilhões em 2025, argumento contestado por críticos que alegam “dupla cobrança”.
Enquanto o governo tenta transferir a questão para a diplomacia e a agenda eleitoral de 2026, a oposição aposta no impacto negativo da tarifa nos preços internos e no dólar turismo. Embora as negociações comerciais ainda estejam abertas, a batalha das narrativas já deixa claro que a guerra não está mais apenas nos gabinetes, mas nas impressões por minuto nas redes sociais. O tarifaço, mesmo antes de vigorar, se firmou como um dos maiores desafios eleitorais e econômicos para o atual governo.
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