Nova doença ameaça rebanho bovino do Texas e alerta pecuaristas

 


A comunidade pecuária do Texas está em alerta diante da crescente ameaça da bicheira-do-Novo Mundo, uma infestação parasitária que já foi praticamente erradicada dos Estados Unidos, mas que parece estar retornando com força, ameaçando dizimar rebanhos e elevar ainda mais os preços da carne bovina.

Após o recente impacto da gripe aviária, que levou ao abate de grandes parcelas do rebanho avícola americano e contribuiu para a alta dos preços dos ovos, produtores de gado do Texas agora se preocupam com a propagação da bicheira, cujo nome científico significa “devoradora de homens”. Essa infestação ocorre quando moscas fêmeas depositam ovos em feridas abertas de animais, que eclodem rapidamente, dando origem a larvas que se alimentam da carne, causando sofrimento intenso e podendo matar o animal em até duas semanas sem tratamento adequado.

“Se esperarmos, perderemos”, alertou Stephen Diebel, vice-presidente da Associação de Criadores de Gado do Texas e do Sudoeste, durante audiência legislativa recente em Austin, pedindo ação imediata para conter o avanço da praga.

A bicheira já esteve presente nos Estados Unidos, mas foi quase erradicada na década de 1950 graças a um programa governamental que utilizava radiação para esterilizar as moscas. Recentemente, a praga foi detectada a até 600 quilômetros da fronteira texana, acompanhando a migração de animais pela perigosa região do desfiladeiro de Darién, que liga a América do Sul à América Central. O transporte ilegal de gado e as condições climáticas quentes também facilitam sua expansão.

Para combater a ameaça, o Departamento de Agricultura dos EUA lançou uma iniciativa de US$ 8,5 milhões para produzir moscas machos estéreis que seriam liberadas para acasalar com as fêmeas, interrompendo o ciclo reprodutivo da praga. Além disso, US$ 21 milhões foram destinados para reformar uma unidade no México que produzirá semanalmente de 60 a 100 milhões dessas moscas estéreis. No entanto, especialistas afirmam que essa produção cobre apenas cerca de 20% do necessário para controlar um surto em grande escala, e que décadas atrás, cerca de 600 milhões de moscas eram liberadas semanalmente para a erradicação.

Enquanto isso, pecuaristas pressionam os legisladores texanos para que o estado invista na construção de uma fábrica local de moscas estéreis, em vez de esperar pela ação do governo federal. O senador texano John Cornyn apresentou um projeto de lei que destina US$ 300 milhões para essa construção, mas o Congresso entrou em recesso antes da votação.

O problema se soma a desafios já existentes para a pecuária americana, que enfrenta seca severa, aumento dos preços da ração e o menor rebanho bovino desde 1952. Em maio, os preços da carne bovina atingiram recordes históricos, com a libra de carne moída custando em média US$ 5,98.

Além disso, o comércio internacional sofre pressões: as importações de gado do México, que respondem por cerca de 3% do rebanho americano, foram suspensas em diversos momentos por causa da detecção da bicheira em regiões mexicanas, afetando a oferta de carne.

Autoridades texanas, como o comissário de agricultura Sid Miller e o governador Greg Abbott, preparam planos de resposta para a chegada da praga, que pode atingir o Texas em poucos meses. O governador criou uma força-tarefa para coordenar as ações preventivas.

Economicamente, antes da erradicação da bicheira, o setor pecuário americano perdia cerca de US$ 20 milhões ao ano devido à infestação, com mortes de animais, redução na produção e custos veterinários elevados.

A volta da bicheira coloca em risco a estabilidade do mercado de carne bovina e a sobrevivência de pequenos e grandes criadores no Texas e em todo o país, exigindo esforços coordenados urgentes para conter a disseminação dessa ameaça silenciosa, mas devastadora.

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