O dólar estável hoje sinaliza calmaria ou prenúncio de tempestade?

 


Em um dia de poucas oscilações, o dólar à vista encerrou esta terça-feira praticamente estável, com leve queda de 0,02%, cotado a R$ 5,50565. O movimento refletiu uma combinação de fatores domésticos e internacionais, com os investidores dividindo a atenção entre a política monetária dos Estados Unidos, a ata do Copom no Brasil e a crescente tensão diplomática entre Brasília e Washington.

O mercado operou com baixa volatilidade ao longo do dia. A moeda americana alternou entre leves altas e baixas, espelhando o compasso de espera dos agentes diante de decisões que podem impactar diretamente o fluxo de capitais nos próximos dias. Na B3, o contrato futuro com vencimento mais próximo caiu 0,23%, sendo negociado a R$ 5,542.

Entre os fatores internacionais, os investidores reagiram a dados mistos da economia americana e a declarações de dirigentes do Federal Reserve, que reforçaram as apostas de um possível corte nos juros em setembro. A desaceleração do mercado de trabalho nos EUA, evidenciada por números recentes, contribuiu para o enfraquecimento global do dólar, mas a moeda encontrou resistência para cair ainda mais frente ao real.

No Brasil, o destaque foi a divulgação da ata do Copom. O documento reafirmou o compromisso do Banco Central com a manutenção da taxa Selic em níveis elevados por um período prolongado, o que, segundo especialistas, pode manter o real relativamente protegido diante de um cenário internacional mais volátil. A Ativa Investimentos reiterou sua projeção de que a Selic permanecerá em 15% até pelo menos meados de 2026, diante das incertezas fiscais e externas.

Mas o que realmente movimentou o câmbio nesta terça-feira foi o impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos, agravado pela prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, gerou apreensão no mercado, uma vez que o presidente americano Donald Trump já havia condicionado sanções comerciais ao tratamento recebido por Bolsonaro no Brasil. A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, que entra em vigor amanhã, ainda pode ser ajustada, mas as tentativas de negociação do governo brasileiro seguem sem sucesso.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que aguarda uma reunião com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, mas até o momento nenhuma data foi definida. A Casa Branca ainda não se pronunciou oficialmente sobre os desdobramentos mais recentes, o que aumenta a incerteza sobre o impacto real da medida para as exportações brasileiras.

Com uma agenda econômica internacional mais leve nos próximos dias, os analistas apontam que o câmbio deve seguir sensível às movimentações políticas e diplomáticas. Tudo indica que a reação de Washington às decisões do STF será determinante para o comportamento do real até o fim da semana.

A calmaria do câmbio nesta terça-feira, portanto, pode ser apenas o silêncio antes de uma nova tempestade.

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