O ano de 2024 marcou uma virada histórica no setor de seguros brasileiro. Em meio a um cenário de transformações profundas no sistema financeiro, novas diretrizes do Banco Central e da Susep (Superintendência de Seguros Privados) colocaram o Brasil em sintonia com os modelos mais avançados do mundo. Essa mudança regulatória não se limitou a ajustes técnicos. Ela desencadeou uma reestruturação que já está impactando a forma como os seguros são ofertados, contratados e distribuídos.
Os dados refletem esse novo momento. De acordo com a Susep, a arrecadação do setor chegou a R$ 435,56 bilhões em 2024 — um crescimento nominal de 12,2% em relação a 2023 e um avanço real de 7,6%, já descontada a inflação. Foi o maior volume já registrado desde o início da série histórica. O ambiente regulatório mais flexível e aberto à inovação está no centro desse crescimento.
A principal novidade está nos pilares adotados pelas autoridades financeiras: desburocratização, estímulo à concorrência e avanço tecnológico. A entrada de cooperativas, insurtechs independentes e associações de proteção patrimonial já está sendo facilitada. Isso abre espaço para novas formas de oferecer seguros, muitas vezes mais acessíveis e adaptadas ao comportamento do consumidor atual.
A inovação passa também pela integração com o setor financeiro. Em 2025, espera-se a implementação da regulação oficial do modelo Banking as a Service (BaaS), que permite a empresas não bancárias oferecerem produtos financeiros via APIs. Embora seguros ainda não estejam totalmente contemplados no escopo do BaaS, há sinais de que isso deve mudar. A interoperabilidade entre sistemas — já em curso com o Open Finance e o Open Insurance — sugere que, em breve, os seguros também poderão ser distribuídos por empresas de fora do setor tradicional.
A penetração dos seguros ainda é baixa no Brasil. Apenas cerca de 30% da população possui seguro de automóvel. Já os seguros residenciais e de vida não ultrapassam os 20%. Esse cenário demonstra o tamanho da oportunidade que se abre com a nova fase regulatória. O foco está em criar experiências digitais simples e intuitivas, que ajudem o cliente a perceber o valor da proteção contratada.
Grandes empresas do setor já estão se movimentando. A Via Varejo firmou parceria com a Zurich, e os Correios distribuem seguros da CNP. O objetivo é alcançar o consumidor no momento certo, com o produto certo — algo possível com o uso estratégico de dados e inteligência artificial.
O desafio agora está na criação de jornadas digitais eficazes, que convertam o interesse em contratação. A sinergia entre os reguladores e os avanços tecnológicos pode finalmente destravar o potencial do setor no Brasil. O seguro, antes visto como caro ou inacessível, pode se tornar um serviço integrado à vida cotidiana — tão essencial quanto qualquer outro.
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