A recente imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos está redesenhando o mapa do comércio exterior do Brasil. A medida, que entrou em vigor em 6 de agosto, atinge diretamente importantes itens do agronegócio e da indústria nacional, forçando exportadores a buscar novos mercados. Nesse cenário, os países árabes surgem como um destino estratégico, oferecendo tarifas significativamente mais baixas e um apetite crescente por produtos brasileiros.
Um estudo da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira identificou 13 produtos entre os principais exportados aos EUA nos últimos cinco anos que podem ter suas vendas redirecionadas ao mercado árabe. Entre eles, destacam-se café verde, carne bovina, açúcar, produtos semimanufaturados de ferro ou aço, madeira de coníferas e petróleo refinado.
O café verde é um exemplo claro dessa oportunidade. Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,896 bilhão do produto para os EUA, contra US$ 513,83 milhões para países árabes. A Arábia Saudita, por exemplo, importou US$ 400 milhões em café no ano passado, mas apenas US$ 49,12 milhões vieram do Brasil, indicando um vasto potencial de crescimento. No setor de carne bovina, Egito, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita também apresentam espaço para ampliar as compras.
As vantagens competitivas não se resumem à demanda. Enquanto os EUA impõem agora tarifas de 50% sobre esses produtos, países árabes aplicam alíquotas que variam de zero a 20% para café, carne bovina e açúcar, e até 12% para produtos siderúrgicos. Isso cria uma janela de oportunidade para o Brasil reposicionar sua pauta exportadora e reduzir a dependência do mercado norte-americano.
Em 2024, as exportações brasileiras para a Liga Árabe somaram US$ 23,68 bilhões, com superávit de US$ 13,5 bilhões para o Brasil. O bloco é composto por 22 países, muitos com crescimento populacional e econômico acima da média mundial. Além disso, há complementaridade entre as economias: o Brasil exporta principalmente alimentos e commodities agrícolas, enquanto importa petróleo e fertilizantes.
A Câmara Árabe recomenda ações coordenadas entre governo e setor privado para aproveitar o momento. O plano inclui promoção comercial de produtos com alta atratividade tarifária, adaptação das empresas às exigências locais (como certificação halal) e fortalecimento de acordos de livre comércio. Há negociações em andamento entre o Mercosul e países como Tunísia, Marrocos, Jordânia, Líbano e o Conselho de Cooperação do Golfo.
Além das negociações, medidas práticas como facilitar vistos de negócios, organizar missões comerciais e atrair investimentos árabes para o Brasil podem acelerar os resultados. O histórico já comprova a eficácia dessas iniciativas: desde que o acordo Mercosul–Egito foi firmado em 2010, as exportações brasileiras para o país quase dobraram.
Com demanda sólida, tarifas competitivas e laços diplomáticos favoráveis, o redirecionamento de produtos brasileiros para o mercado árabe não é apenas uma alternativa emergencial ao tarifaço dos EUA — pode ser o início de uma nova rota estratégica para o comércio exterior brasileiro.
Comentários
Postar um comentário