PIX atinge pico no Brasil e entra em fase de saturação, diz Morgan Stanley

 


Após quatro anos de crescimento acelerado, o PIX parece ter alcançado seu limite no Brasil. Segundo relatório do Morgan Stanley, o sistema de pagamentos instantâneos atingiu 100% de penetração entre a população adulta e, com isso, entra agora em uma fase de saturação. O banco alerta que esse novo cenário poderá impactar diretamente o mercado de pagamentos digitais, pressionando margens e derrubando expectativas de crescimento de lucro nas empresas do setor.

Crescimento parou: 160 milhões de usuários

Lançado em 2020, o PIX se consolidou como um dos meios de pagamento mais bem-sucedidos do mundo, especialmente por ser patrocinado pelo Banco Central. Atualmente, é utilizado por cerca de 160 milhões de pessoas — número equivalente à totalidade da população adulta do país. Desde abril, o número de usuários não apresenta crescimento, o que, para o Morgan Stanley, indica o esgotamento do potencial de expansão.

Esse freio tem reflexo direto no desempenho do sistema. Nos primeiros sete meses de 2025, o volume total de pagamentos (TPV) do PIX cresceu apenas 3%, resultado significativamente inferior ao avanço de 21% em 2024, 23% em 2023 e 32% em 2022. O volume médio por usuário também desacelerou de maneira notável: aumento de apenas 1% em 2025, contra taxas de dois dígitos nos anos anteriores.

Impacto direto no setor de pagamentos

Com o fim da fase de crescimento exponencial, o Morgan Stanley avalia que o mercado de pagamentos digitais entrará em uma etapa de maturação, com ritmo mais lento e maior competição por preços. A instituição considera que o setor está altamente comoditizado, e a saturação deve levar a compressão de margens e queda de rentabilidade das adquirentes.

As projeções de mercado ainda apontam para um crescimento composto do lucro líquido entre 9% e 10% ao ano nos próximos cinco anos, mas o banco considera essas estimativas excessivamente otimistas. Em sua visão, o avanço será próximo de zero. Para comparação, entre 2020 e 2024, as empresas do setor conseguiram entregar crescimento anual médio de 15% no lucro líquido, sustentado por um TPV que avançava cerca de 30% ao ano.

Regulação mais firme à vista

Com o sistema já amplamente disseminado, o foco das autoridades deve mudar. O Morgan Stanley prevê uma nova etapa regulatória, em que o objetivo será coibir excessos — como práticas abusivas de precificação. Isso pode representar um desafio adicional para empresas que já operam com margens apertadas.

O Banco Central pode, por exemplo, aumentar a fiscalização sobre tarifas cobradas por transações PIX via maquininhas, repasses bancários e integrações com carteiras digitais. A tendência é que o avanço do TPV passe a acompanhar o crescimento do consumo no Brasil, algo próximo a 7% ao ano — bem abaixo dos padrões anteriores.

Em resumo, o sucesso do PIX, embora inegável, inaugura um ciclo de desafios. As empresas do setor terão de se reinventar para manter a rentabilidade em um cenário de mercado maduro, margens menores e mais regulação.

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