Por que cada vez mais empresas chinesas estão abrindo capital nos EUA, mesmo com as tensões com Trump?

 


Apesar do aumento das tensões entre China e Estados Unidos, um número recorde de empresas chinesas está buscando abrir capital nas bolsas americanas em 2025. Só no primeiro semestre, 36 companhias, em sua maioria de pequeno e médio porte, fizeram ofertas públicas iniciais (IPOs) nos EUA — número que caminha para ultrapassar o recorde anterior de 64 IPOs em 2024, segundo o escritório de advocacia K&L Gates.

Mas por que tantas empresas estão preferindo enfrentar o ambiente político hostil e as exigências regulatórias dos EUA? A resposta passa por uma combinação de obstáculos internos na China, busca por capital rápido e maior visibilidade global.

Desde 2023, o governo chinês impôs regras mais rígidas para listagens domésticas. Os critérios ficaram mais seletivos, priorizando empresas lucrativas, grandes ou que estejam alinhadas às metas estatais, como inovação tecnológica ou autossuficiência industrial. Isso tem deixado startups e empresas em estágio inicial praticamente sem espaço no mercado local. Na avaliação de especialistas, esse filtro torna a listagem local “uma missão impossível” para negócios que ainda não geram lucro ou receita expressiva.

Enquanto isso, o mercado americano oferece regras mais objetivas, agilidade no processo e, acima de tudo, acesso a uma base de investidores com grande apetite por risco. Em Nova York, o tempo médio para aprovação de um IPO varia entre quatro e seis meses — quase a metade do prazo necessário na China. O uso crescente de SPACs (empresas de aquisição com propósito específico) também facilita esse caminho, permitindo que startups se tornem públicas sem passar pelo processo tradicional de IPO.

O presidente da Xinghui Car Technology, fabricante de carros de corrida, celebrou recentemente em Xangai um acordo com uma SPAC listada na Nasdaq, destacando que o mercado de capitais dos EUA é “líquido e acessível”. Essa declaração exemplifica a visão de muitos empresários chineses que, apesar do risco político, veem nos EUA uma oportunidade única de crescer.

E os riscos políticos são reais. Donald Trump, novamente presidente dos EUA, tem ameaçado impor novas tarifas e restrições a empresas chinesas. Parlamentares norte-americanos já solicitaram a exclusão dessas empresas das bolsas dos EUA, citando preocupações com segurança nacional. A SEC, agência que regula o mercado americano, também intensificou as exigências de divulgação de informações por parte das companhias estrangeiras — com foco especial na China.

Ainda assim, a tendência continua. Mais de 40 empresas chinesas aguardam aprovação para listar suas ações na Nasdaq nos próximos meses. Entre elas, há desde startups de tecnologia até fabricantes de medicamentos tradicionais chineses. A valorização recente do mercado acionário americano, somada à escassez de capital fácil na China, reforça essa corrida.

Com aproximadamente US$ 1 trilhão em valor de mercado conjunto, empresas chinesas como Alibaba, JD.com e Baidu já mostraram o potencial de expansão global ao buscar o mercado americano. Agora, dezenas de novas companhias tentam seguir o mesmo caminho — mesmo que a ponte entre Xangai e Wall Street esteja cada vez mais estreita e vigiada.

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