A Força Aérea dos Estados Unidos planeja adquirir caminhonetes Tesla Cybertrucks — não para uso operacional, mas para serem deliberadamente destruídas em testes militares. Segundo documentos oficiais, dois desses veículos futuristas serão utilizados em treinamentos que simulam ataques com mísseis e outros armamentos, com o objetivo de preparar as tropas para cenários que se aproximem ao máximo da realidade.
O Comando de Material da Força Aérea informou que, além dos Cybertrucks, outros 31 veículos, entre sedãs e caminhões pequenos, serão comprados para servirem de alvos. A justificativa é que potenciais inimigos “provavelmente” poderiam empregar veículos com características semelhantes, especialmente devido à resistência estrutural dos Cybertrucks.
Os documentos ressaltam que o design angular e futurista do modelo, aliado ao exoesqueleto de aço inoxidável sem pintura, o tornam ideal para testes de impacto e resistência. Curiosamente, os veículos não precisam estar totalmente funcionais, mas devem estar intactos e capazes de se mover sobre as rodas.
Para o professor Gordon Adams, especialista em gastos militares e política externa na American University, a compra em si pode parecer pequena, mas simboliza algo maior: a intensificação da relação entre o Departamento de Defesa e empresas privadas de alta tecnologia. Adams observa que a conexão com Elon Musk não é novidade — suas empresas, como a SpaceX e a Starlink, já acumulam contratos bilionários com o governo, incluindo acordos para serviços de lançamento de foguetes e conectividade via satélite em operações militares.
Essa aproximação entre forças armadas e empresas de tecnologia não se restringe à Tesla. A lista de parceiros do Pentágono inclui gigantes como Palantir, Amazon, Microsoft e até a OpenAI. O caso da Palantir é emblemático: em 2024, ela fechou um contrato de US$ 10 bilhões com o Exército para fornecimento de software ao longo de dez anos. Já a OpenAI garantiu um contrato de US$ 200 milhões para aplicar inteligência artificial em operações militares e corporativas.
De acordo com dados do Government Accountability Office, mais da metade dos contratos governamentais de 2024 — cerca de US$ 445 bilhões — foi destinada ao setor privado, evidenciando uma integração cada vez mais profunda. Esse movimento ganhou força a partir do governo Obama, que criou programas para atrair inovadores de tecnologia ao Departamento de Defesa. No governo Trump, a tendência se intensificou com um aumento significativo no orçamento militar.
Hoje, especialistas como Adams apontam que essa fusão entre alta tecnologia e defesa está criando um “novo setor” de indústria militarizada. Empresas de ponta desenvolvem soluções sob medida para o Pentágono, enquanto garantem lucros expressivos. Ao mesmo tempo, o processo levanta questões sobre até que ponto a inovação tecnológica deve ser integrada a fins militares e quem, de fato, controla essa agenda.
A compra dos Cybertrucks, portanto, é mais do que uma curiosidade logística. É um símbolo do futuro da guerra e da defesa — um futuro em que design futurista, inteligência artificial e contratos bilionários convergem no campo de batalha, real ou simulado.
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