Qual o impacto dos resultados da Stellantis nas locadoras brasileiras de veículos?

 


Os resultados da Stellantis, conglomerado que reúne marcas como Fiat, Jeep e Peugeot, divulgados na última semana referentes ao primeiro semestre de 2025, trazem sinais mistos para o setor de locação de veículos no Brasil. Para o Bank of America (BofA), o efeito no curto prazo sobre empresas como Localiza (RENT3) e Movida (MOVI3) é neutro. No entanto, a manutenção de margens elevadas pela montadora na América do Sul pode desencadear pressões por redução nos preços dos automóveis, um fator que pode impactar negativamente o desempenho financeiro das locadoras.

A Stellantis reportou uma margem EBIT (lucro antes de juros e impostos) de 15,3% na América do Sul no primeiro semestre de 2025, uma leve queda de 30 pontos-base em relação ao mesmo período de 2024. Ainda assim, esse resultado está significativamente acima da média histórica da empresa na região, que girava em torno de 5% entre 2015 e 2024. Para o BofA, essa margem robusta indica que a montadora possui espaço para promover cortes adicionais nos preços dos veículos vendidos no Brasil, uma estratégia que pode beneficiar os consumidores, mas trazer desafios para o setor de locação.

A principal preocupação reside na pressão que a possível redução dos preços dos carros pode exercer sobre as locadoras. Isso porque, com a desvalorização acelerada dos veículos usados, a linha de depreciação dessas empresas tende a aumentar, impactando diretamente o EBITDA — o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização — especialmente na venda de seminovos, que representa uma parte importante do modelo de negócios das locadoras. Conforme destaca o BofA, “a redução nos preços de carros no Brasil costuma implicar revisões negativas de lucros para o setor de aluguel”.

Apesar dessas preocupações, o banco mantém a recomendação de compra para as ações da Localiza, com preço-alvo de R$ 62, e uma avaliação neutra para Movida, com preço-alvo de R$ 8,50, sinalizando que há confiança na capacidade das empresas de navegar nesse cenário desafiador.

Na visão do Itaú BBA, a estabilidade da margem da Stellantis na América do Sul em relação ao ano anterior reforça a ideia de que a montadora tem margem para continuar oferecendo descontos ou incentivos para impulsionar as vendas no varejo brasileiro. Esse contexto reforça a postura cautelosa do Itaú BBA em relação ao setor de locação, principalmente diante das incertezas relacionadas à redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e seu impacto nos preços dos carros novos e, consequentemente, nos ativos das locadoras.

O cenário atual coloca as locadoras brasileiras em uma encruzilhada: enquanto preços mais baixos de veículos podem aumentar a demanda por aluguel, a queda na valorização dos seminovos pode corroer margens e reduzir a rentabilidade. Além disso, o setor enfrenta desafios externos, como as oscilações econômicas e mudanças regulatórias, que exigem uma gestão eficiente dos riscos.

Para os investidores, o momento demanda atenção aos indicadores de margem das montadoras e à política de preços praticada por elas, além da capacidade das locadoras de ajustar suas estratégias de gestão de frota e vendas de usados para manter a sustentabilidade financeira.

Em resumo, os resultados da Stellantis reforçam a necessidade de monitorar de perto o setor automotivo e de locação no Brasil, pois as decisões das montadoras influenciam diretamente a dinâmica de mercado e os resultados das principais empresas do segmento.

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