Quando a Selic vai começar a cair? Ata do Copom reforça cautela e evita pistas sobre cortes

 


A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (5), confirmou o que o mercado já esperava: o Banco Central está decidido a manter a taxa Selic em 15% ao ano por tempo indeterminado. O tom cauteloso do documento chamou atenção por evitar qualquer sinal de quando o ciclo de cortes de juros poderá começar, reforçando a estratégia de manter o aperto monetário por mais tempo.

A comunicação oficial do BC não deixou brechas: a expressão “período muito prolongado” foi repetida diversas vezes, o que, segundo analistas, foi uma maneira de bloquear especulações sobre uma redução precoce dos juros. Para a XP, o Copom fez um esforço intencional para passar uma mensagem clara de cautela, principalmente diante das incertezas externas e das pressões fiscais internas.

A autoridade monetária destacou o ambiente global mais adverso e incerto, mencionando a moderação no crescimento da economia brasileira e o impacto potencial das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos do Brasil. Além disso, o BC apontou preocupações com a política fiscal, que pode dificultar a convergência da inflação para a meta.

A principal dificuldade do Copom neste momento, segundo economistas, é equilibrar o fim do ciclo de alta sem gerar uma expectativa precipitada de início de corte. Para o economista André Valério, do Inter, a comunicação da ata mostra que o Banco Central está preocupado com a desancoragem das expectativas inflacionárias e com o risco de uma política fiscal desalinhada com a monetária.

No entanto, há divergências entre analistas sobre quando os cortes devem começar. A XP projeta que o ciclo de flexibilização começará em dezembro, com cinco cortes consecutivos de 0,50 ponto percentual ao longo de 2026, levando a Selic para 12,5%. Já o ASA Investimentos acredita em um início mais tímido, com o primeiro corte em dezembro de 2025, de apenas 0,25 ponto percentual.

O Bradesco, por sua vez, também vê espaço para uma redução de 0,5 ponto percentual em dezembro deste ano, caso o cenário de inflação continue em queda e a economia perca mais força. Mas o banco ainda aguarda novos dados para revisar suas projeções. Já o Goldman Sachs é mais cauteloso e acredita que o BC pode esperar até o primeiro semestre de 2026 para iniciar os cortes, exigindo uma convergência mais clara das expectativas inflacionárias.

Enquanto isso, o Brasil segue com a segunda maior taxa de juro real do mundo, atrás apenas da Turquia. O ambiente de juros elevados deve continuar pressionando a atividade econômica, o consumo e o investimento nos próximos trimestres.

O mercado agora aguarda os próximos indicadores de inflação, atividade e emprego para tentar prever com mais precisão quando a Selic começará a cair. Até lá, a recomendação é manter a cautela — a mesma adotada pelo Banco Central.

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