Queda do dólar é sustentável ou apenas respiro temporário? Veja o que está por trás da desvalorização

 


O dólar à vista encerrou esta quinta-feira (7) em baixa pela quinta sessão consecutiva, acumulando uma queda de 3,2% desde a última sexta-feira. A cotação de fechamento foi de R$ 5,4235, com desvalorização diária de 0,72%. Mas o que está realmente por trás desse movimento? Seria o início de uma tendência mais duradoura ou apenas um alívio pontual diante do cenário externo ainda incerto?

O mercado cambial vem reagindo a uma combinação de fatores, tanto externos quanto internos. Um dos principais elementos foi a sinalização de que o impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos pode ter algum alívio, especialmente com o recuo parcial das tarifas impostas por Donald Trump a produtos brasileiros. Embora o risco de novas medidas não tenha sido totalmente descartado, o tom mais ameno contribuiu para reduzir a pressão sobre a moeda brasileira.

No exterior, a movimentação política e econômica também influenciou o comportamento do dólar. Nos Estados Unidos, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que os US$ 300 bilhões arrecadados com tarifas em 2025 são "um bom começo" e que esse valor pode aumentar até 2026. A sinalização de estabilidade nos acordos comerciais reduziu parte da aversão ao risco.

Além disso, uma fala polêmica do presidente Donald Trump voltou a gerar ruído no mercado: ele pediu publicamente a renúncia do CEO da Intel, Lip-Bu Tan, por “grande conflito de interesses”. A instabilidade política, embora crônica, teve pouco impacto prático no mercado de câmbio, que reagiu mais fortemente aos sinais econômicos.

No Reino Unido, o Banco da Inglaterra (BoE) surpreendeu parte dos analistas ao cortar sua taxa básica de juros para 4%, o que pressionou moedas europeias e fortaleceu brevemente o dólar no mercado internacional. No entanto, o real se descolou desse movimento, impulsionado por fatores domésticos e pela recuperação de ativos locais.

O índice IGP-DI, divulgado pela FGV, também contribuiu para o ambiente de alívio no câmbio. A queda de 0,07% em julho, embora menor que a esperada pelo mercado (-0,15%), reforça a percepção de controle inflacionário, o que reduz a pressão sobre o Banco Central para manutenção de juros altos — outro fator que favorece a atratividade do real frente ao dólar.

Já no setor corporativo, o anúncio de que a Airlink e a Azorra fecharam contrato de leasing para 10 jatos da Embraer sinaliza boas perspectivas para o setor de aviação brasileira, o que também ajuda a melhorar o humor dos investidores.

Apesar da recente sequência de quedas, analistas ainda são cautelosos em prever uma tendência firme de valorização do real. O risco fiscal no Brasil, os desdobramentos do tarifaço dos EUA e a tensão geopolítica global continuam no radar. Assim, o recuo do dólar pode ser, por ora, apenas um movimento técnico e não o início de um ciclo prolongado.

Portanto, a pergunta permanece: a queda recente do dólar é sustentável ou veremos um novo repique nos próximos dias?

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