O setor de carnes bovinas do Brasil vem passando por uma reconfiguração acelerada em 2025. Diante da escalada tarifária imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — que incluiu uma taxa extra de 50% sobre a carne bovina brasileira —, os produtores tiveram que redirecionar embarques para outros destinos.
O principal destaque desse novo fluxo é o México. De janeiro a junho deste ano, o volume de carne bovina exportada para o país saltou de 3,1 mil para 16,1 mil toneladas, um crescimento de 420%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Em valor, a venda subiu de US$ 15,5 milhões em janeiro para expressivos US$ 89,3 milhões em junho.
A China também reforçou sua posição como principal comprador. O gigante asiático absorveu 134,4 mil toneladas em junho, respondendo por quase metade de toda a carne exportada pelo Brasil. O volume significou um faturamento de US$ 739,9 milhões — crescimento de 64% em relação a janeiro.
Esses avanços têm sido fundamentais para compensar a retração no mercado americano. Até abril, os EUA figuravam como importante destino para a carne bovina nacional, chegando a comprar 44,1 mil toneladas, ou US$ 229 milhões naquele mês — o maior volume do ano. Mas a partir de então, a estratégia protecionista de Trump impactou diretamente o setor. Em junho, as exportações para o país despencaram para 13,4 mil toneladas, somando apenas US$ 75,3 milhões — queda de 67% no volume enviado.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) aponta que cerca de 30 mil toneladas que seriam enviadas aos EUA permanecem estocadas desde o anúncio das novas tarifas, tornando o envio inviável em termos de custo.
Apesar do baque, os dados gerais são positivos para o Brasil. Em junho, o país exportou 241 mil toneladas de carne bovina, totalizando US$ 1,3 bilhão. Dados preliminares de julho indicam alta de 56,5% nas vendas em relação ao mesmo mês de 2024. O setor de carnes, junto com a soja, segue entre os principais responsáveis pelo superávit comercial brasileiro.
No curto prazo, o México desponta como peça estratégica para aliviar o impacto do fechamento parcial do mercado norte-americano. Analistas também destacam o fortalecimento dos laços com a China e outros mercados emergentes como chave para manter a demanda aquecida.
Enquanto isso, o governo brasileiro busca diálogo para tentar reverter as restrições. O presidente Lula, em resposta a recentes declarações de Trump, reafirmou que o Brasil “sempre esteve aberto ao diálogo” e sinalizou que a questão será debatida em reuniões diplomáticas.
Com uma cadeia exportadora cada vez mais diversificada, o setor de carnes brasileiro tenta provar que não depende apenas dos EUA para garantir divisas. Resta saber até que ponto parceiros como México e China conseguirão absorver a fatia deixada pelos norte-americanos.
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