Será que o Brasil está desperdiçando seu maior tesouro invisível?

 


Em 2024, a economia criativa movimentou US$ 1,5 trilhão no mundo, segundo a UNCTAD — superando até a indústria automotiva. Esse valor já corresponde a 3% do PIB global e, mais impressionante, grande parte vem de ativos intangíveis: a reputação de pessoas e marcas capazes de influenciar comportamentos, exportar cultura e fortalecer a imagem de um país.

O Brasil, mesmo sem uma estratégia centralizada, é um celeiro de influenciadores com impacto global. Neymar, Anitta, Ronaldinho, Whindersson Nunes e Maisa somam mais de 500 milhões de seguidores no Instagram — mais de duas vezes a população brasileira. E a audiência não é apenas nacional: em 2024, 38% das buscas por “Anitta” vieram de fora da América Latina; o nome de Neymar teve mais pesquisas no Oriente Médio do que no Brasil. Anitta, sozinha, foi headliner em 11 países em menos de dois anos, com transmissões ao vivo que ultrapassaram 20 milhões de espectadores.

O potencial de projeção é tão grande que outros países o tratam como política pública. A Coreia do Sul é o exemplo clássico: o K-pop gerou US$ 10,2 bilhões em receitas externas em 2023, representando 27% das exportações culturais do país e impulsionando vendas de cosméticos e eletrônicos. Segundo o Korea Eximbank, cada US$ 100 milhões adicionais em exportações de K-pop estão associados a US$ 2,2 bilhões extras em vendas de bens de consumo.

Esse poder também se manifesta no turismo. O Catar registrou aumento de 25% no fluxo turístico no ano seguinte à Copa do Mundo, resultado de campanhas que usaram celebridades internacionais — o que representou US$ 4,5 bilhões a mais em receitas.

No Brasil, a influência digital já gerou efeitos logísticos reais. O “morango do amor”, fenômeno das redes, fez a Azul Cargo Express registrar crescimento de 800% no transporte aéreo da fruta no 1º trimestre de 2025, somando 86 toneladas no semestre. O mesmo ocorreu com o “Café com Canela”: em menos de 60 dias, criadores de conteúdo gastronômico impulsionaram um salto de 320% nas vendas da especiaria em marketplaces nacionais.

A influência também atua no campo político. Em 2024, Elon Musk colocou o Brasil no centro de um debate global sobre liberdade de expressão após criticar autoridades no X (antigo Twitter), gerando mais de 2,3 milhões de menções ao país em 48 horas. Alexandre de Moraes e Donald Trump também já provocaram repercussão internacional instantânea por meio de postagens.

O que tudo isso revela é que a internet permite transformar atenção em dinheiro, contratos, turismo e exportações em questão de horas. Porém, no Brasil, esse capital de influência ainda é construído de forma dispersa e não coordenada.

Se a reputação global é um ativo, ela merece a mesma atenção estratégica que commodities tradicionais. O país tem talento, audiência e credibilidade para transformar soft power em força econômica real — mas só colherá resultados duradouros se aprender a tratá-lo como política de Estado.

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