Será Que o “Excepcionalismo Americano” Está Chegando ao Fim? Entenda mudança radical que pode ocorrer no mundo



A força histórica dos mercados financeiros dos Estados Unidos começa a ser questionada por investidores globais, que observam sinais de desgaste em um cenário de tarifas inesperadas, déficit fiscal crescente e dúvidas sobre a resiliência da economia norte-americana. Mesmo com uma recuperação recente de Wall Street e do dólar, cresce a sensação de que os ativos dos EUA podem não garantir retornos superiores como antes.

Por anos, a convicção de que o “excepcionalismo americano” — sustentado por um sistema democrático consolidado, mercados de capitais líquidos e um ecossistema de inovação invejável — asseguraria rendimentos acima da média foi pouco contestada. No entanto, o aumento das tensões comerciais desde o início do ano está obrigando gestores e grandes fundos a repensar essa crença.

Tarifas Viram Ponto de Inflexão

O estopim mais recente dessa reavaliação foi a nova rodada de tarifas comerciais anunciadas pelo presidente Donald Trump. Em uma decisão de forte impacto, dezenas de países, como Canadá, Brasil, Índia e Taiwan, foram incluídos na lista de alvos das taxas adicionais. A medida gerou queda generalizada nos mercados globais, ampliando incertezas em torno da economia norte-americana.

Enquanto acordos paralelos com União Europeia, Japão e Coreia do Sul tentam aliviar o peso das tarifas, o temor de um impacto inflacionário duradouro paira sobre o mercado. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) mostrou o maior aumento em cinco meses em junho, sinalizando que as tarifas já podem estar pressionando os preços internos.

Déficit Fiscal Preocupa Investidores

Outro ponto sensível é o endividamento. Para muitos gestores, o crescente déficit fiscal dos EUA torna menos atraente manter ativos denominados em dólares. Um projeto de lei recém-aprovado, que prevê gastos públicos adicionais, deve elevar ainda mais a dívida federal, alimentando o risco de juros mais altos como compensação para investidores.

Uma pesquisa da consultoria CoreData com grandes investidores, que juntos administram quase US$5 trilhões em ativos, revelou que 47% deles estão cortando suas alocações de longo prazo em mercados norte-americanos. Esse número marca uma virada drástica em relação à confiança vista há dois anos.

Ainda Há Espaço para Otimismo?

Apesar do receio, há quem veja exagero no pessimismo. O mercado acionário norte-americano segue sustentado por empresas altamente lucrativas, sobretudo no setor de tecnologia. Gigantes como Apple, Google e Microsoft seguem na vanguarda da inovação, impulsionadas pelo avanço da inteligência artificial — fator que mantém parte do apetite dos investidores por ações dos EUA.

Além disso, após meses de vendas, investidores estrangeiros voltaram a comprar títulos do Tesouro norte-americano. Em maio, foram adquiridos US$146 bilhões em papéis, revertendo as vendas de US$40 bilhões de abril. Essa retomada mostra que, mesmo com todos os percalços, o dólar ainda preserva o status de moeda de reserva global.

Risco de Politização Econômica

No entanto, novas fontes de tensão não podem ser ignoradas. Trump tem pressionado abertamente o Federal Reserve a reduzir as taxas de juros, chegando a ameaçar a destituição de Jerome Powell, presidente do Fed. Esse tipo de interferência política em decisões monetárias agrava a percepção de risco e preocupa os defensores de uma autoridade monetária independente.

Enquanto isso, o risco de recessão, sinalizado por números fracos do mercado de trabalho — o payroll de julho criou apenas 73 mil vagas contra as 110 mil esperadas —, aumenta a pressão por cortes de juros para sustentar o consumo e os investimentos.

Mudança de Rota Global

Diante de todas essas variáveis, gestores como o Man Group recomendam aos clientes neutralidade na exposição a ativos dos EUA, enquanto observam oportunidades na Europa, China e mercados emergentes. O chamado “excepcionalismo americano” ainda se sustenta em pilares fortes, mas, para muitos, seu brilho começa a se ofuscar — pelo menos até que o país prove novamente sua capacidade de superar os desafios globais.

Para o investidor, o recado é claro: os próximos meses serão decisivos para entender se o dólar e os mercados de Wall Street continuarão a ser o porto seguro do mundo ou se chegou a hora de diversificar para além da marca “Made in USA”.

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