Você sabia? Brasileiros já pagam café em Paris e compras no Paraguai com Pix — entenda como funciona

 


O “Pix”, método de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central do Brasil em 2020, ultrapassou as fronteiras nacionais e já é presença frequente em destinos turísticos de países vizinhos — e até mesmo na Europa e nos Estados Unidos. Cada vez mais estabelecimentos em cidades como Ciudad del Este, Buenos Aires, Punta del Este, Paris e Orlando estão preparados para receber turistas brasileiros que preferem a praticidade do sistema que revolucionou as transferências financeiras no país.

A dentista Tuanny Monteiro Noronha, de Brasília, experimentou isso de perto em uma viagem recente ao Paraguai e à Argentina. Em Ciudad del Este, onde brasileiros costumam fazer compras de eletrônicos e importados, ela encontrou o Pix aceito em praticamente todas as lojas. Em Buenos Aires, a cena se repetiu: restaurantes, bares e até feiras já oferecem a opção de pagamento por QR Code com conversão direta para o real.

Apesar de o Pix, oficialmente, não permitir transferências internacionais diretas, seu uso fora do país é possível graças a fintechs e adquirentes, que intermediam a operação. Na prática, o consumidor brasileiro paga em real via Pix para uma empresa credenciada no Brasil, que faz a conversão e liquida a venda com o comerciante local — tudo isso em segundos, já com impostos como o IOF embutidos.

Alex Hoffmann, CEO da PagBrasil — uma das pioneiras no serviço — explica que o grande atrativo é a transparência. Diferente do cartão de crédito, no qual o turista só descobre a cotação do dólar ou euro semanas depois, ao fechar a fatura, no Pix o câmbio é garantido no momento do pagamento. “O valor aparece já em real no QR Code da maquininha e não muda”, detalha Hoffmann.

Essa combinação de rapidez, previsibilidade de custo e facilidade de uso faz com que o Pix tenha ganhado espaço até em destinos mais distantes. É o caso da jornalista Verônica Soares, que viajou de Brasília para Paris e usou o Pix para abastecer sua conta multimoeda em um app financeiro, trocando reais por euros instantaneamente, sem filas em casas de câmbio ou taxas surpresa.

Presença em expansão

O avanço não para por aí. Hoje, o modelo intermediado já funciona em pontos turísticos da Espanha, Portugal, França, Chile, Panamá e Estados Unidos. Recentemente, a PagBrasil fechou parceria com a Verifone, uma das maiores credenciadoras de pagamentos do mundo, para habilitar o Pix como forma de pagamento em lojas americanas. A aposta é aproveitar o fluxo anual de mais de 2 milhões de brasileiros que visitam os EUA, com gastos que superam US$ 4,9 bilhões.

Segundo Hoffmann, a popularidade do Pix é alimentada pelo próprio hábito dos brasileiros: cerca de 75% da população já utiliza o sistema no dia a dia. No Brasil, ele já responde por quase metade de todas as transações financeiras — superando com folga os pagamentos com cartões de crédito e débito.

Desafios e futuro

Apesar do sucesso, ainda não há previsão de um “Pix internacional” oficial, operado diretamente entre bancos centrais. Essa integração depende de acordos multilaterais complexos. Por ora, o Banco Central brasileiro estuda ligar o Pix à rede Nexus, uma plataforma em desenvolvimento pelo Banco de Compensações Internacionais (o “banco central dos bancos centrais”) para viabilizar transferências instantâneas entre países.

Enquanto isso, o modelo de intermediação via fintechs avança. Para quem viaja, os benefícios são claros: menos necessidade de andar com dinheiro em espécie, conversão automática de moeda, câmbio justo e menos taxas ocultas.

Mesmo com possíveis tensões, como a recente investigação anunciada pelo governo dos Estados Unidos contra supostas práticas desleais do Brasil — incluindo o Pix —, o consenso no setor é que o avanço do sistema é difícil de conter. “Não tem como parar a história. O Pix é imparável pela qualidade e versatilidade. É o sistema de pagamentos mais abrangente do mundo”, resume Hoffmann.

Para os turistas brasileiros, a tendência é clara: cada vez mais será possível pagar o café em Paris, o eletrônico em Ciudad del Este ou a entrada de um parque na Flórida com o mesmo sistema usado para transferir dinheiro para um amigo no Brasil. Tudo com a praticidade de um QR Code e a segurança de saber exatamente quanto será debitado — na hora, sem surpresas na fatura.

Comentários